"ONDE HÁ ANGÚSTIA HÁ DESEJO"
Atores:
São Paulo, 28 de junho de 2011.
Atores:
RENATO, ANTÔNIA, NALOANA, EDU, LÉO FRANÇA, RAFAEL E JÚLIO que substituiu o FELIPE, (que deu WO).
Os atores ficaram sentados em uma fila de cadeiras de frente para um microfone que tinha 08 girassóis amarrados em seu pedestal (e ficou vaga uma cadeira no meio simbolizando o WO da LUCIANA RAMIM). E em uma fileira lateral ficava a plateia.
São Paulo, 28 de junho de 2011.
Nanaqui,
Suas cartas despertaram em mim inquietação e desejos. Levaram-me também a refletir sobre a condição da arte, do teatro, sobre a minha condição; o que me trouxe à lembrança as palavras de uma amiga, citando Paulo Freire: A Educação não muda o mundo. A educação muda pessoas. Pessoas mudam o mundo.
Substituindo a palavra educação por arte, teatro... A arte muda as pessoas? O teatro muda as pessoas?
O teatro me muda? Eu mudo o mundo? Não quero ser pretensioso, mas um ser que pretende ter ações efetivas.
Como posso pretender com o teatro mudar algo, se eu mesmo não mudo em contato e em relação com o teatro? Ou mudo? E se mudo, mudo permaneço ou gero mu-danças?
Suas palavras ressoam em minha cabeça, meu corpo, meu espírito. Se o artista é aquele que pode possibilitar a ligação com o divino e o sagrado, por sua vez acredito, não o faz senão por uma intempestiva relação profana. Iluminando e, paradoxalmente, trazendo à tona as sombras.
Suas idéias me questionam sobre minha responsabilidade para com o mundo e para comigo mesmo. Sobre como respondo com meus talentos e capacidades ao que me é atribuído. A como criar e ter ações concretas e responsáveis para comigo, a arte, o teatro, as outras pessoas. Como?
Carinhosamente,
...
Após ler esta carta, LÉO MUSSI, que havia pedido para que todos os atores viessem de casa com roupa de gala, lançou um desafio a seus atores:
LÉO FRANÇA E RAFAEL NÃO SE LEVANTARAM.
E SÓ O RENATO RESGATOU SEU GIRASSOL.
Que pelo tempo de uma hora ele deviam permanecer sentados e que poderiam levantar só se fosse para fazer uma ação artística que de fato mudasse a vida de alguém. O que conseguisse realizar a ação modificadora teria direito a resgatar um dos girassóis e caso o contrário a morte inevitável dos girassóis dali 5 dias cairia sobre as costas dos que não realizassem.
Deixou tocando BEATLES por uma hora. O fim da trilha determinaria o fim do exercício.
O 1º a fazer sua ação foi EDU BRISA – O DEDO DE DEUS, um monólogo de sua autoria, colocando em cheque o que ele faz fora dali dando o que lhe parecia se não com a potência de mudar a vida de alguém, mas com a potência do que se tem pra dar.
O 2º foi RENATO – Ele resgatou um dos girassóis e se dirigiu até a estação de trem do Brás e ofereceu o Girassol para uma moça que varria a estação. A moça estranhou no início, mas o Renato disse a ela que era apenas um gesto de amor e ela aceitou e ficou visivelmente transformada.
A 3ª foi NALOANA - DARLUZ - Conto de Marcelino Freire
É O que ainda acredito no Teatro
Tem coisas que precisam ser ditas, ainda
Tem trocas que precisam ser feitas, ainda
Tem descobertas que precisam ser alcançadas...
Um dia.
Haverá transformação?
Sei não.
Essa angústia nos perceguirá por um bom tempo... ainda.
Tem coisas que precisam ser ditas, ainda
Tem trocas que precisam ser feitas, ainda
Tem descobertas que precisam ser alcançadas...
Um dia.
Haverá transformação?
Sei não.
Essa angústia nos perceguirá por um bom tempo... ainda.
A 4ª foi ANTÔNIA- canto pra oxalá;
É uma música que me emociona;
Ele é o maior de todos os orixás;
“O SENHOR NOS FAÇA GRANDE COMO O SENHOR É”
O 5º foi o JÚLIO - UM CORPO SÓ –SÓ UM CORPO – SEM ROUPA- SEM NADA – SÓ UM CORPO – PASSANDO FRIO – MUITO FRIO.
Ele se colocou em relação aos espaços da escola sem roupa, fazia muito frio e ele dizia: MENOS, MUITO MENOS! TUDO É MUITO, MUITO MAIS - PEQUENO – NANO – NNANO – MENOS MUITO, MUITO MENIS – TUDO É MUITO MAIS PQEUENO! –NANO. UM CORPO SÓ UM CORPO.
Na discussão depois do exercício ele disse: O que apareceu em todos nós foi uma busca dos nossos repertório e colocados aqui à prova, fora de contexto – Acho que é onde a gente pode se agarrar.
LÉO FRANÇA E RAFAEL NÃO SE LEVANTARAM.
E SÓ O RENATO RESGATOU SEU GIRASSOL.
Trecho de O DEDO DE DEUS de Edu Brisa - e - DARLUZ - Conto de Marcelino Freire